SOBRE NÓS

COMUNICANDO A PALESTINA

Comunicando a Palestina é um guia prático que oferece ferramentas para criar narrativas e promover o engajamento com a Palestina de maneira ética e responsável. De boas práticas para combater a desinformação a estratégias para promover uma cobertura midiática ética e a valorização da autonomia palestina, este manual completo capacita a todos — desde ativistas e artistas a jornalistas e decisores políticos — convidando a uma comunicação íntegra sobre a Palestina.

Narrando pela Libertação
Engajando com Dignidade

Histórias, reportagens, imagens e todas as formas de comunicação têm o poder de inspirar, educar, mobilizar e conectar as pessoas. Em contextos de colonização, opressão e racismo sistêmico, a comunicação é usada como arma para silenciar, distorcer e apagar histórias, identidades e narrativas inteiras. Para os palestinos, a batalha pela narrativa e representação sempre foi indissociável da luta pela libertação e autodeterminação.

Repressão e propaganda sionistas

O movimento sionista procurou não só tomar posse das terras palestinas e fazer uma limpeza étnica do seu povo, mas também trabalhou ativamente para apagar a sua identidade e o seu tecido cultural e social. Essa estratégia colonialista se estende a todos os domínios da expressão palestina — mídia, artes, narrativa, produção de conhecimento e organização política. Historicamente, jornais palestinos foram fechados, publicações censuradas, estações de rádio destruídas, arquivos saqueados, centros de pesquisa bombardeados e intelectuais assassinados. Interromper a organização política, suprimir a resistência e isolar os palestinos da consciência global e as lutas têm sido, sempre, parte integrante da iniciativa colonialista.

Não é exagero dizer que a criação do Estado de Israel em 1948 ocorreu, em parte, porque os sionistas adquiriram o controle da maior parte do território da Palestina e, em parte, porque já haviam vencido a batalha política pela Palestina no mundo internacional, onde ideias, representações, retórica e imagens estavam em jogo.
Edward Said, ‘Blaming the Victim’ (Culpando as Vítimas)

Hasbara—A palavra hebraica para “explicação” — é a estratégia de diplomacia pública de Israel para moldar a opinião global a seu favor, retratando-se como uma vítima perpétua e enquadrando a opressão colonialista como “defesa”. Popularizada no início do século XX com expressões como “uma terra sem povo para um povo sem terra”, a ideia vem evoluindo, desde então, para uma campanha estratégica e institucionalizada, incorporada em órgãos estatais e sustentada pela coordenação e financiamento de grupos de lobistas sionistas globais. Essas redes orquestram campanhas difamatórias, espalham desinformação e pressionam governos, a mídia, o meio acadêmico, plataformas digitais e empregadores para que adotem suas narrativas, ao mesmo tempo em que deslegitimam e censuram a incidência, o ativismo palestino.

*Saiba mais sobre Hasbara nessa seção.

O sistema mais amplo de apagamento

Os esforços sionistas de apagamento estão incorporados em sistemas mais amplos de poder global, incluindo o colonialismo e o racismo institucionalizado, que permeiam as instituições políticas, de desenvolvimento, acadêmicas e culturais, a mídia e as plataformas digitais. Esses atores trabalham para amenizarbranquear a opressão israelense enquanto disseminam narrativas desprovidas de seu contexto colonialcolonialista, reduzindo os palestinos a estereótipos racistas e orientalistas — “terroristas, intrinsecamente violentos, atrasados, incivilizados, vítimas passivas, rejeitadores ou figuras exotizadas”. Enquanto isso, os palestinos são apagados e censurados, sua credibilidade depende da validação ocidental ou israelense, suas análises são questionadas ou totalmente deslegitimadas e suas narrativas são confinadas a moldes estreitos e etnocêntricos.

Nossa resposta

A iniciativa Comunicando a Palestina (Communicating Palestine) surgiu como uma resposta direta a esses desafios já tão arraigados. Baseado em uma longa história de resistência palestina à censura, distorção e propaganda, este guia busca fazer mais do que expor e desconstruir preconceitos. Ele centra as narrativas palestinas em seus próprios termos, desmantelando enquadramentos prejudiciais e recusando-se a ser definido em reação a eles. Reafirma a centralidade palestina por meio de um engajamento digno e ético.

O movimento palestino produziu recursos e kits de ferramentas poderosos para desconstruir preconceitos e amplificar as suas narrativas, mas ainda faltava um manual completo que visasse a comunicação e as relações públicas. Comunicando a Palestina baseia-se neste trabalho coletivo, oferecendo análises e ferramentas completas sobre narrativas, recursos visuais, práticas e tudo o que está relacionado com a comunicação num espaço fácil de utilizar..

Mais do que um recurso, este guia é um manifesto para desaprender, reaprender e praticar a comunicação libertadora.

A urgência do agora

Embora grande parte deste guia tenha sido desenvolvido antes do genocídio, sua relevância tornou-se ainda mais premente. O genocídio em curso revelou, com clareza devastadora, que a desumanização, o apagamento e o silenciamento dos palestinos não são meras injustiças abstratas, mas fatores diretos que possibilitam a aniquilação de um povo.

As potências globais fazem mais do que reprimir a capacidade dos palestinos de se expressarem, se organizarem e resistirem — elas moldam ativamente a opinião pública, fabricam consentimento para a ocupação israelense e normalizam a opressão dos palestinos. Elas reprimem a mobilização em massa e sustentam as condições que tornam o genocídio possível. A desinformação, a censura e o viés na comunicação não são apenas prejudiciais — são barreiras diretas à justiça e à liberdade palestinas.

A comunicação responsável não é apenas um imperativo ético — é uma questão de sobrevivência.

Endossadores

Autores e Editores

Este guia é o resultado de um processo coletivo liderado por palestinos, coordenado por um comitê diretor conjunto de organizações palestinas e internacionais, com as generosas contribuições dos participantes da pesquisa.

*Saiba mais na seção Contexto, aqui.

 O guia não teria sido possível sem o trabalho dedicado de seus autores e editores: Lina Hegazi, Ania Kdair, Iuna Vieira, Inès Abdel Razek, Mariam Barghouti, Mayss Al Alami, Aseel AlBajeh, Danielle Ferreira, Diana Alzeer, Farah El Yacoubi, Haneen Kinani, Itxaso Domínguez de Olazábal, Laura Albast, Mehdi Beyad, Sara Abdel-Qader, Sara Husseini, Makan e Al-Haq.

Concepção e Desenvolvimento

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Identidade visual e concepção do site Anakeb Communications Solutions

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Desenvolvimento do site Monarch Digital 

Comunicando a Palestina é uma ferramenta liderada e hospedada pelo PIPD, como parte de sua missão de defender a libertação da Palestina de todas as formas de colonialismo e promover a diplomacia do povo palestino e um movimento liderado por palestinos.

Este guia foi elaborado para aqueles que comunicam sobre a Palestina em diversos setores, incluindo jornalistas, ativistas, defensores, membros da sociedade civil, acadêmicos, educadores, criadores de conteúdo, figuras públicas, artistas, trabalhadores humanitários e formuladores de políticas.

Ele está organizado em três seções principais: narrativas e enquadramentos, representações visuais e práticas de comunicação e engajamento. Cada seção fornece conhecimento e análise, juntamente com recomendações práticas e dicas.

O guia também fornece ferramentas destinadas ao uso diário ao retratara Palestina, incluindo checklists, guias de terminologia e fotografia, recursos para combater propaganda e falácias, entre outros.

Embora a plataforma forneça análises, recomendações e ferramentas valiosas e relevantes para todos os públicos, destacamos as seções mais relevantes para sua área específica.

Explore as seções mais relevantes com base no tópico de interesse:

Cronograma e metodologia de pesquisa

A ideia deste guia surgiu em 2019, por iniciativa de um comitê diretor composto por organizações da sociedade civil palestinas e internacionais, com o objetivo de coordenar a pesquisa, a redação e a criação de um guia sobre como comunicar a Palestina. Em 2020, o comitê diretor liderou uma iniciativa de pesquisa baseada em evidências envolvendo mais de 570 pessoas, principalmente palestinos, cujas reflexões críticas e experiências vividas serviram de base para a análise e as recomendações deste guia.

A pesquisa incluiu:

  • Oito discussões em grupos focais: Realizadas com mais de 60 participantes em Battir, no Campo de Refugiados de Dheisheh, em Khan al-Ahmar e em Ramallah, bem como com profissionais de ONGs locais e internacionais, agências de ajuda humanitária, missões diplomáticas e meios de comunicação social.
  • Entrevistas em profundidade: Realizadas com 12 especialistas em comunicação, acadêmicos e atores da sociedade civil.
  • Uma pesquisa online: Que alcançou mais de 500 palestinos dentro e fora da Palestina.

Nossa pesquisa de campo foi orientada por três questões principais:

  • Que narrativas moldam as percepções sobre a Palestina e os palestinos atualmente?
  • Quais narrativas e representações os palestinos identificam como prejudiciais e por quê?
  • Como os palestinos recomendam transformar essas representações prejudiciais?

Após a coleta de dados, a análise estatística foi realizada pela Alpha International. Entre 2021 e 2022, o comitê diretor e os consultores especializados realizaram mais pesquisas documentais, redação e edição. A finalização do guia foi adiada principalmente devido a mudanças organizacionais e às necessidades urgentes decorrentes do genocídio em curso desde outubro de 2023.

Após esse período, o PIPD liderou a finalização do guia, incluindo a revisão final, o desenvolvimento do site e a estratégia de comunicação. Isso envolveu aperfeiçoamento significativo do rascunho e finalização das ferramentas, juntamente com pesquisa documental para garantir que o guia estivesse atualizado com a intensificação do racismo anti-palestino, especialmente desde o genocídio. A edição posterior garantiu um guia mais fácil de usar e amplamente acessível.

Princípios da pesquisa

Garantindo a inclusão e uma abordagem colaborativa: A pesquisa foi concebida e conduzida de forma inclusiva e colaborativa, envolvendo uma diversidade de atores e grupos, incluindo palestinos de uma ampla gama de comunidades, bem como profissionais de vários setores, incluindo mídia, formulação de políticas, incidência, área humanitária e o meio acadêmico.

Colocando os palestinos no centro e mantendo a autonomia: O conteúdo baseia-se numa abordagem participativa que dá prioridade às vozes, aos conhecimentos e às realidades vividas pelos palestinos. As pessoas falaram em seus próprios termos, decidindo falar como indivíduos ou representando suas organizações ou coletivos. 


Reconhecendo as dinâmicas de poder: Reconhecendo o papel das narrativas dominantes na manutenção das dinâmicas de poder desiguais na Palestina, a pesquisa examinou criticamente e envidou esforços para erradicar a repetição de narrativas prejudiciais, imprecisas e violentas que perpetuam a injustiça.

Mantendo a ética na pesquisa: A transparência e os padrões éticos, incluindo espaços informados sobre traumas, orientaram todas as fases da pesquisa. Os facilitadores e pesquisadores que conduziram a coleta de dados estavam bem informados sobre o trauma em camadas vivenciado pelos palestinos. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes da pesquisa. As perguntas da pesquisa não eram sugestivas. O anonimato dos participantes da pesquisa é rigorosamente preservado e foram seguidas práticas seguras de armazenamento de dados.

Limitações e oportunidades para pesquisas futuras

Este guia não é exaustivo. Como qualquer guia e conteúdo baseado em pesquisas, ele tem limitações inerentes e sempre pode ser ampliado.

Embora a pesquisa se concentre nos palestinos, ela não pode afirmar que representa todas as perspectivas do povo palestino. Devido à fragmentação sistemática e às restrições de movimento impostas por Israel, combinadas com a presença da equipe de pesquisa na Cisjordânia, o guia apresentava informações mais detalhadas sobre a Cisjordânia em comparação com outras regiões onde vivem palestinos.

Este guia não apresenta uma análise abrangente dos desafios de comunicação em relação a outros fatores interseccionais de desigualdade e opressão, como gênero ou classe social. Espera-se que, ao comunicar melhor a Palestina, a criação de conteúdos futuros esteja preparada para explorar, refletir e abordar os aspectos complexos e multidimensionais das injustiças institucionalizadas